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Representar uma peça de teatro já escrita ou escrevê-la já para este fim é uma coisa, e de certo modo, fácil, se compararmos com espetáculos adaptados de romances, contos, crônicas ou outro gênero qualquer que não o teatro. É o que acontece com Sarapalha, conto de João Guimarães Rosa integrante do livro Sagarana. E é aí que está o maior desafio de quem for adaptá-lo para os palcos – enquadra-se aqui toda a equipe: do figurinista ao ator – não só por transitar de um gênero para o outro, mas também pela dificultosa e pioneira linguagem Roseana.

Mas esse desafio não foi empecilho para Paulo Oliveira, pelo menos não no sentido de fazê-lo desistir de sequer tentar colocar a peça em ação. E foi o que fez com maestria, tanto que com ela ficou em cartaz por quatro anos.

Cabe aqui uma curiosidade: na segunda apresentação da peça, os atores encenaram para dois convidados ilustres da plateia, os quais fizeram o mesmo papel que aqueles por oito anos, ou seja, os personagens foram assistidos pelos próprios personagens.

Recentemente se juntou a grandes nomes da dramaturgia – infelizmente não reconhecidos com o devido valor que merecem e pela grande mídia, o que não durará por muito tempo – para realizar um projeto sonhado e engavetado por muitos anos. Trata-se do Busão Teatral, o qual tem por principal objetivo retomar o teatro grego em seu primórdio, adaptando-o a modernidade, ou seja, proporcionar aos mais necessitados a oportunidade de frequentar tal ambiente e atividade cultural, quebrando o paradigma de que só a elite frequenta o meio.

O projeto conta com quatro peças em cartaz, dentre elas, Sarapalha, mas agora sem a encenação de Paulo. O texto adaptado do conto é de sua autoria, por sua vez, a atuação é de Kadu Ramsés e Marcelo Vieira e a direção de Valter Navarro.

Espera-se que o espetáculo se inicia já com encenações ou com algum ator fazendo papel de narrador, nos contando o começo da história. De fato há um narrador – tanto no conto quanto na peça – mas no caso desta, ele está representado por uma gravação, ou melhor, por uma narração em áudio.

Após o decorrido episódio, começam inserções extras, ou seja, detalhes que não estão no conto. O primeiro deles é o ato de Primo Ribeiro e Primo Argemiro – os protagonistas da história, apesar de não haver tal termo no gênero teatral – acordarem. O segundo o ato de Primo Argemiro passar o café. O terceiro é a presença de um vestido de noiva no cenário, o qual servirá mais adiante para Primo Ribeiro acaricia-lo, lembrando-se de seu grande amor, prima Luíza.

Daí em diante o peça segue fielmente ao conto, com a perfeita interpretação dos atores. Sobretudo nos momentos de dores e delírios advindos da Malária, mazela pela qual foram acometidos.

 Ao final, bem... se você já leu o conto saberá do desfecho, se ainda não leu vá assistir a peça para descobrir. O figurino, a sonoplastia, a iluminação, a adaptação, a direção, a atuação, o espetáculo de modo geral, é magnífico e imperdível.

 

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