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Assim como o Ser Humano e as Escolas Literárias são antíteses, paradoxos e metamorfoses, também o é Alfredo Rossetti, enquanto eu-lírico de suas obras; ou será as obras como eu-lírico de Rossetti? Alfredo é, como já dito, poeta dos opostos, de mudanças, e mais: é poeta do passado e do presente, ou seja, poeta clássico ao mesmo tempo que de vanguarda.
Tanto a prosa quanto a narrativa, ao longo dos períodos literários, passaram por grandes e diversas modificações estruturais / estéticas (plano de expressão) e semânticas (plano de conteúdo), até chegarem à época do Modernismo em diante, período em que os artistas em geral libertaram-se dos moldes padronizados que seguiam. Nesse sentido, Rossetti faz uma espécie de neologismo estilístico, pois se utiliza de um “mosaico das escolas literárias” para compor suas obras. Tanto o é, que logo nas primeiras páginas de “Dia de chuva” há uma citação de Luiz Zanin Oriccio, a qual diz muito a esse respeito:
Um crítico de literatura, cujo nome não nos ocorre no momento, assim definiu a poesia: “Sincera e perfeita transposição artística da substância essencial da criação”. À definição acrescentamos, à título de corolário, as modulações estéticas, de musicalidade e pictóricas, que plasmam no espírito do amador de poesia a ética veracíssima da angústia, porque a motivação do poeta tem raízes na sua angústia. “...pois quem está bem consigo e no seu canto, não pinta, não compõe, não escreve. Vive!”.
Ou ainda:
Vive ou não tem substância? A coragem consiste em ultrapassar a erudição e conquistar aquele trágico domínio da ação com expressões pessoais, sem o que nada existe.
E é, exatamente, o que ocorre e figura-se como características inerentes aos artistas: a cópia exata da “substância essencial da criação” e o duplo viver (o terreno e o ficcional).
Em todos seus livros, Alfredo confere títulos aos poemas, o que aliado às influências de autores / obras antigas e contemporâneas, sobretudo o Concretismo e a Práxis (citadas ou não ao longo de seus textos), preserva o modelo tradicionalista. Outras características dos movimentos mencionados é a ausência de pontuação (que ocorre em muitos poemas) e a disposição gráfica do texto no papel.
A tônica dos poemas de “Dia de chuva” (2005) é o domínio que Rossetti tem das figuras de linguagem (metonímia, metáfora, neologismo, prosopopeia, comparação, anáfora, assonância, aliteração), aliado às particularidades outras (metalinguagem, enjambement, rimas, uso ou não de pontuação, alternância ou não entre maiúsculas e minúsculas, sintaxe simples, vocabulário do simplista ou rebuscado), no que se refere ao estilo inconfundível de escrita do autor.
Veja-se alguns exemplos:
“Ontem à tarde o sol suspirou de amor.” (Sonho universal)
“Sinto que minha história escapou-me entre os dedos. / Como se morasse no quarto ao lado.” (Alheio) 
“Não veja apenas a infrutescência / de minha vida. O vago, o corriqueiro, / onde há o céu sem astros, / o opaco.” (Versos para quem me ama)
Em “Tempo do meu tempo” (2002), que segue a mesma linha de “Dia de chuva” e é anterior a ele, Rossetti apresenta um aperitivo do que virá em “Concisão” (2005), ao alterar a forma do texto, nos poemas “Tempo do meu tempo” e “A aranha e a cigarra”. Neste, após o primeiro verso na horizontal, é apresentado um verso na vertical, seguido de outros na horizontal; já naquele, no meio do poema, escrito em oito quartetos e um terceto, alinhados à esquerda, apresenta-se três dísticos e três tercetos, centralizados.
Em “Concisão” encontram-se poemas concretos, ou seja, poemas escritos dentro de um retângulo emoldurado e centralizado na página, sendo que os próprios poemas também têm formas visuais (desenhos) e jogos de palavras.
Em “Voz” (2017), título muitíssimo sugestivo à figura do poeta, Alfredo traz uma inovação, levando-se em conta os volumes anteriores, ao dividir os poemas em seções intituladas, respectivamente como: “A voz que vem de dentro do dentro”, “A voz que vem de outras vozes”, “A voz que vem de surdos absurdos”, “A voz que fala de si mesma”, “A voz que o tempo leva e traz”.
As tantas vozes que habitam os poetas são ditas e/ou silenciadas por diferentes momentos vivenciados, por diferentes temáticas, por diferentes recursos estéticos, por diferentes pontos de vista etc, e é isso o que se encontra não só em “Voz”, mas nos outros três títulos expostos.
Ler Rossetti é sempre grande estudo a aprendizado, pois com o esboço de suas influências e conhecimentos, o autor contorna as palavras, passando a limpo sua escrita primorosa e inconfundível.

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